Jornal - O Povo 19.10.2010
O pequeno Kaio Cardoso, 3, procura um doador de medula óssea para se curar de um tipo de anemia. Enquanto não encontra, os pais fazem campanha na rua. Ele prefere sorrir e acreditar na varinha mágica que guarda no quarto
O corpo miúdo não produz glóbulos vermelhos, plaquetas e glóbulos brancos a contento. Precisa receber transfusões a cada sete dias para se sustentar. E conta com a ajuda de um catéter para tudo correr bem.
São apenas três anos e dez meses de vida - nove dos quais Kaio dedicou quase que exclusivamente a uma verdadeira batalha. Mas a anemia aplástica resiste. “Tentamos até soro de coelho, mas não fez efeito”, lembra a mãe, Kamila Cardoso Ribeiro, 32.
O pequeno já foi levado até Curitiba (PR), onde passou três meses sendo medicado. Sem sucesso. A cidade é considerada o centro hematológico do Brasil. Agora, só um transplante de medula óssea pode salvar o garoto.
No entanto, falta o principal: um doador. Na família, todos submeteram-se a testes de compatibilidade. Mãe, pai, os quatro avós, dois tios e até uma meia irmã. Contudo, as chances de algum parente ajudar são remotas.
A ajuda deve vir de alguém cadastrado no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). E, ainda assim, no panorama de um indivíduo compatível para cada 100 mil voluntários. Uma espera que pode terminar neste instante ou durar semanas, meses...
De qualquer forma, as malas já estão prontas. Quando for convocado ao procedimento cirúrgico, a operação ocorrerá em Curitiba. “A gente vive na ansiedade, no escuro”, cita Kamila, que deixou a advocacia de lado para cuidar do filho.
Exemplo
Sorrisão no rosto, Kaio é um sapeca. Não para um instante. Mas teria motivos para ser tristonho. Não bastasse a anemia, ele ainda lida com os efeitos da paralisia cerebral sofrida durante o parto.
Entretanto, o garoto rejeita o choro. Prefere cantar forró. Mesmo com os movimentos limitados, não fica parado ao ouvir “Aviões”. “Eu danço todo dia”, conta.
Ele sabe que o corpo fica mole quando o nível de plaquetas cai; que deixou de ir à escola por conta disto; que os pais fazem campanhas em busca de doadores; e que pode ser salvo com “simples” 200ml de medula.
Kaio é um pequeno questionador. Faz questão de saber como está o tratamento. Parece ter amadurecido antes da hora. Mas também sonha. No quarto, garante ter uma varinha mágica que faz sumir qualquer coisa. “Abra kadabra... Chulé de cabra... Faz esse chocolate desaparecer”, gesticula, jogando um copinho branco para o alto.
Da vida, conhece pouco. Mas dá lição nos reclamões plantonistas. “Vamos brindar?”, sugere, levantando uma taça de guaraná que mal consegue segurar de tão grande. “Tin tin”, completa com um golão.
Orgulhosa, a mãe observa. E acredita. “Se eu tiver de pedir ajuda ao mundo inteiro, eu vou pedir”. Hoje, ela faz panfletagem em prol da causa do filho na avenida Santos Dumont.
E-MAIS
>No quarto, Kaio se diverte num mundo feito de brinquedos. Diante de um pequeno laptop e do boneco do homem-aranha, o olhinho brilha.
>Com receio do filho contrair infecções, os pais cancelaram o ingresso de Kaio na escola e suspenderam as sessões de fisioterapia para amenizar os efeitos da paralisia cerebral.
>Pai e mãe também mobilizam doadores em São Luís (MA), onde moravam até virem para Fortaleza em outubro do ano passado, e Sergipe, onde o pai de Kamila mora.
>A panfletagem de hoje acontece na Meireles & Freitas (av. Santos Dumont, 304). Um posto do Hemoce será montado para cadastrar doadores no Redome.
>Nenhum voluntário pode entrar no Redome e ser destinado a Kaio. Todos têm suas características genéticas registradas e são acionados para pacientes de todo o País.
>Diariamente, Kaio toma cinco tipos diferentes de medicamentos. Um deles é custeado pelo Governo.
Bruno de Castro
brunobrito@opovo.com.br
Lindo o trabalho que vc está fazendo.
ResponderExcluirMe cadastrei em minha cidade (Bauru - SP)na semana passada, e estou aguardando poder ajudar alguém. Deus abençoe todos nós!
Beijosssssss